"Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia."


Friedrich Nietzsche



segunda-feira, 12 de março de 2012

  Você está em lugar estranho. A cama que você deita, o sofá onde senta. Tudo parece fora do lugar. A conversa é diferente, as pessoas se revelam, o cheiro da casa é outro. A geladeira tem coisas diferentes, o banheiro é de outro jeito. O barulho dos carros na rua não é o mesmo. Mas a cerveja continua gelada.
  Você fala. Mais do que devia, menos do que podia. E a conversa continua até que alguém se canse, então você continua a beber, assistindo qualquer coisa na televisão, que também não é sua. Olhando para todos os lados, desconhecendo tudo, mesmo sabendo onde tudo fica. "Fique a vontade!".
  Amanhã a semana começa de novo, tão rapidamente quanto passou a última. Você pensou em tantas coisas, em tanta gente que já passou e mesmo assim deixou suas cicatrizes, gente que deixou suas marcas. Os pixadores do muro da sua vida. Os compositores da sua vida, os sócios da sua história.
  Você acha complicado escrever aqui. Tenta se habituar através do ambiente, fingindo que sua vida também é feita aqui. Mas por onde ela não é construida? Enfim, você continua sozinho, mesmo tentando se enturmar. Fingindo ser interessante para as pessoas pelas quais você não espera mais nada. Mas a cerveja continua gelada.
  Existe um gole de vodka, esquecido na geladeira. Mas será que pode te ajudar? Difícil saber, na sua memória as coisas se encaixam como um quebra cabeça sem todas as peças. Panelas, esfirras, alcool, sexo contado. O domingo vai.
  Elas estão lá. Esperando. Desistindo. Desistindo de mim, do que tenho a oferecer, do pouco de bom que tenho. Esquecendo da vida que levo. Nada disso é o bastante. O que você quer e quem quer conquistar? Neste mundo movido a motores caros, o que um pobre garoto movido a sonhos, músicas e alcool pode almejar?
  Pelo menos a cerveja continua gelada...

segunda-feira, 5 de março de 2012

 Você sempre tem alguém ao lado e mesmo assim continua se sentindo sozinho. Andando, sem saber o que falta. Parado, sem saber o que quer. Procurando algo que preencha o buraco dentro das suas vontades. Misturando milhares de coisas dentro de ti, transformando suas idéias em nitroglicerina. A qualquer balanço, em qualquer queda e a qualquer instante você pode explodir.
 E não há avisos. É pior que uma bomba relógio. Você sente o peso das coisas dominando sua vida, suas horas, suas prioridades. Chega um certo momento que ninguém mais pega sua mão para atravessar a avenida, você tem que se arriscar a dar seus passos, mas no fundo, você não quer decepcionar ninguém, certo?
 Às vezes, sua vontade é de pedir uma carona, sumir na estrada, desaparecer por um tempo. Deixar a poeira baixar. Você cansa de só respirar, respirar, respirar... Às vezes dá vontade de jogar tudo pra cima e deixar que tudo caia de uma forma diferente, e deixar quebrado o que se quebrou e continuar com o que permaneceu intacto.
 Mas o que você faz quando não sabe o que quer? Quem consegue te orientar, acender uma luz para que você consiga andar? Você escuta aqui, ouve ali, e todo mundo tem algo pra te dizer, mas às vezes o que eles falam não se encaixa pra você. E a maioria não vai te entender.
 Esse mundo é uma confusão. Tão confuso que às vezes é exato, preciso, como o maquinário de um relógio, e às vezes a engrenagem que atrasa é você. Gente comum não aguenta a loucura da cidade grande e você tem que enlouquecer um pouco mais a cada dia, para conseguir aguentar a vida no meio dessa multidão vazia.
 Você segura o tom, fecha o rosto e esconde a voz. Olha ao redor e consegue sentir eles te olhando e perguntando "O que ele está fazendo aqui?". E quanto mais você conhece gente, mas você se afasta, menos consegue gostar delas. Porque seus amigos de agora não têm a mesma inocência dos seus amigos de infância. De algum jeito, você prefere se manter longe, a sós, pra tentar pensar. Na sua cabeça, só você pode desatar os nós, mas por qual começar?