"Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia."


Friedrich Nietzsche



sábado, 31 de dezembro de 2011

Ela gosta de apagar a luz.

   Ela fala. Alto. Sem vergonha do que diz e do que escutam. Ela passa. Andando por entre os olhares, por dentro dos pensamentos maliciosos. Sorriso fácil, não pra qualquer coisa, não pra qualquer um, mas quando ela abre um sorriso você não olha pra mais nada ao redor.
   Ela pergunta. Se interessa pelo que você tem a dizer e sabe ouvir, olhando pra você, nos olhos. Bebendo, falando, sorrindo. Ela se olha em espelhos, quase o tempo todo, é sua mania. Ela levanta, arruma o decote e sai.
   Ela quer saber. "Quem você é?". Ela te descobre, talvez não como você seja, mas de um jeito bem parecido. A diferença é que ela não tem medo de suas suposições. Ela entende, ou finge que entende. Se não entende, ela sorri... E de alguma forma, não faz diferença.
   Ela é perfeita, porque não presta. Não presta pra se ter, nem pra se confiar. Não presta pra mim, acho que para ninguém. Ela gosta de ficar por cima, de tomar o controle. Gosta de mostrar que manda. Ela gosta de apagar a luz. E depois que as luzes apagam eu não sei mais explicar. Ela não presta, igual à mim, à você e à todo mundo. Ninguém é confiável.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Sempre haverá conhaque...

Estupre sua mente
Tire dela tudo de bom que ela pode te proporcionar.
Tire seu orgulho, sua honra, suas felicidades.
Liberte seus gritos de dor mais profundos.
Enforque-se em suas palavras amarguradas

Afogue-se em mais um copo de conhaque
Calma, tudo ficará bem!
Só mais um copo de conhaque!

Você se sente tão vazio,
Mas ao mesmo tempo tão cheio de tudo.
E o que queria era poder jogar tudo para o alto
Se excluir no seu mundo,
Com suas longas risadas solitárias.

Fique calmo e se afogue mais uma vez,
Com um conhaque você começa a ver as coisas melhorarem.
Basta uma doze para você começar a sentir o efeito,
Irá se sentir realizado com mais um copo de conhaque.

Você não precisa se sentir tão frágil
Enquanto houver conhaque correndo pelo seu corpo se sentirá mais forte.
Não há por que sentir medo!

Se embebede e aproveite seu caos interior

(Gabriel Tatibana)

sábado, 10 de dezembro de 2011

Like a stray dog.

   Eu estou sempre por perto... Mesmo quando desapareço. Preste atenção, as coisas não mudaram tanto assim e você consegue me encontrar se quiser. Ainda estou na mesma casa, na mesma cidade, com o mesmo número de telefone.
   Neruda me disse: "É tão curto o amor, tão longo o esquecimento." e quer saber, ele tem toda a razão. A questão é que eu sou um cachorro que cansa rápido de correr atrás de um carro que eu sei que não vai parar, pelo menos não tão cedo. Eu me canso rápido.
   E quer saber? Outros carros vão passar sem que eu precise mudar de rua. Os carros vão passar. Quer mais? Posso correr atrás de carteiros e de gatos também. A rua me dá isso, sem que eu precise pedir, ela me oferece isso. Além do mais, sempre haverá alguém pra me proibir de entrar, me espantar dos lugares onde não devia estar, sempre haverá um lugar onde eu consiga me alimentar.
   Não há fronteiras nesta cidade cinza, são apenas linhas imaginárias que eu evito de pisar. São rachaduras neste chão impermeável, por onde as raízes das árvores respiram. A única fronteira que nos aprisiona é a fronteira da alma. Mas você não deve entender isso, na verdade eu mesmo não chego perto de entender.
   Mas você sabe, estou sempre por perto. Dentro ou fora de garrafas, em meio às folhas dos seus livros ou das plantas da sua casa. Estou dentro de cada gole curto de vinho que desce por sua garganta. Estou sempre ao alcance e você nem mesmo precisa se esticar demais. Eu estou aqui. E você? Onde está?

"Little sister. I've been sleeping in the street again. Like a stray dog."