"Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia."


Friedrich Nietzsche



sábado, 29 de outubro de 2011

Se você é o meu melhor vício...

  Entra, encosta a porta e senta. Hoje não vamos sair... Tudo o que precisamos está aqui e se não estiver a gente inventa e deixa em câmera lenta. Eu já abaixei o som, eu coloquei um samba bom para a gente escutar deitado, pois não há nada de errado em só querer ficar assim e com você perto de mim...
...o mundo pode explodir lá fora.

Me ensina a te decifrar, menina. Eu quero encontrar um jeito de te mostrar que o defeito anda de mãos dadas com o que está certo, eu posso não ser muito esperto, mas sei qual é o meu caminho. Me perco em goles de vinho, mas eu me acho em você e eu não sei nem mesmo porque, se isso tudo é um início. Se você é o meu melhor vício...
...o mundo pode explodir lá fora.

Linda, eu adoro este teu jeito doce, é como se isso tudo fosse um sonho de um domingo de sol. Cerveja e jogo de bola. Café, calma e Cartola. Nesta cama só nós dois e um lençol.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A eterna busca de felicidade no meio da lama desta infeliz cidade.

   O que te mantém no chão, às vezes, é uma outra perspectiva sobre a gravidade. O que te mantém no chão é o peso do ar que entra em seus pulmões. O ar lotado de fuligem, poeira e doenças alheias dessa cidade. Este ar re-respirado, compartilhado, quase morno.
   O que te mantém em movimento são essas caldeiras, colecionando remorsos em forma de carvão em brasa. É o que move suas engrenagens, o que te bota nos trilhos. Cuspindo pra cima toda a fumaça que resulta da combustão de seus ressentimentos.
   Talvez o que te mantenha vivo seja o fato de você sempre precisar de algo novo e/ou melhor para ser feliz. Talvez já deveríamos ter acordado e esquecido desse sonho de felicidade completa. A eterna busca de felicidade no meio da lama desta infeliz cidade. Talvez o que te mantenha vivo seja o fato de você ainda encher o bolso de outras pessoas, tentando encher o seu próprio, para em algum momento mostrar para outras pessoas as coisas que você agora tem.
   Mas é claro, às vezes o que você possui acaba te possuindo. Tudo isso acaba sendo complicado, quase sempre indecifrável, mas não se você tem Vodka. Tudo depende do fato de você ter ou não uma garrafa de vodka para diluir toda essa sujeira que vem e vai. Você sabe, vodka é legal para levantar a auto-estima.
   Caralho, essa porra de loteria podia cair um dia na minha mão. Aí nunca me faltaria vodka para esterilizar essa imundície. Compraria uma grande casa no campo para minha mãe, com as coisas de que ela precisaria. Botava a vida da minha família pra frente e sumia. Fugiria desse lugar chato, teria uma parede cheia de guitarras e poderia ficar até o resto da minha vida, se assim desejasse, bebendo com os amigos e ouvindo jazz.
   Mas como eu disse, o ar daqui é pesado demais e não permite que nossos pés se afastem demais do chão. Vivemos sonhando que seremos, alguns até acreditam que já são, pessoas que realmente importam, homens e mulheres que usam roupas realmente boas e frequentam restaurantes requintados. Mas não basta só isso, o que define é o status, a altura da patente. Vivemos sonhando com a porra da vida de romance, à hollywoodiana, e todas as coisas que não teremos.
   Quer saber? Releve tudo isso. Não faz muito sentido, talvez porque me falte vodka, talvez porque esse vinho branco parece derreter minha vontade de permanecer acordado, assistindo o domingo acabar. Esse tipo de coisa não me aconteceria se eu fosse russo ou não fosse um maldito bêbado. Foda-se! É como um grande amigo meu costuma dizer: "prefiro ser um bêbado conhecido do que um alcoólatra anônimo". Tem toda a razão, caro amigo.
  

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Labirinto

   Da janela do meu quarto eu vejo carros estacionados, uma porção deles, centenas, como um cemitério silencioso, ou um supermercado em dia de promoção, mas raramente alguém aparece, a paisagem então permanece quase sempre imóvel.
   As lâmpadas cospem luzes alaranjadas, uma ou outra janela nos prédios ao redor mostram sinal de vida. Entre uma tragada e outra a linha de raciocínio vai e volta tantas vezes que me flagro sem saber ao certo no que estou pensando. É como um emaranhado de fios, nem todos se tocam mas acabam sempre conectados ao mesmo ponto fixo.
   A árvore que fica em frente à minha janela parece um ecosistema completo, compartilhado por gatos que gritam e se arranham, pássaros que aproveitam a ausência dos felinos para se aninhar e namorar, e morcegos que aparecem quando o motel de folhas está vago. Os morcegos sempre me assustam.
   Minha casa é distante da rua, poucos ruídos chegam aqui, deixando tudo em um silêncio sufocante, como uma catedral vazia. Às vezes, raramente, algum som perturba este vácuo: um cachorro latindo na vizinhança, o som de um carro correndo pela avenida, o grito das turbinas de um avião solitário, rasgando o céu às escuras.
   Às vezes tenho boas idéias, às vezes crio teorias e labirintos. Imagino como o futuro deveria ser. Lembro-me de pessoas e me pergunto se elas ainda se lembram de mim. Penso em amores antigos, em momentos que parecem imaculados, dentro de porta-retratos que decoram as prateleiras da minha memória. Sorrio entre uma lembrança e outra, praguejo entre uma tragada e outra.
   Já pensei em esvaziar algumas dessas prateleiras, para colocar coisas novas no lugar daquela antiga coleção  de pessoas, lugares e momentos usados, que eu teimo em armazenar. Mas ai me lembro de que não posso simplesmente queimar o arquivo e não estou disposto à amontoar mais coisas.
   No final, acabo esquecendo as coisas que penso, a maior parte delas, como se estivesse mentindo pra mim mesmo. 'A quem eu quero enganar?', eu adoraria ser um otimista, fazendo uma faxina por dentro, tirando a poeira do meu museu particular e inaugurando uma nova ala, apenas para a exibição de novidades. Mas na realidade, tudo funciona como um parque de diversões enferrujado, frequentado pelo mesmo público, que já conhece o gosto do algodão-doce, da pipoca e do refrigerante, que nem mesmo sente mais aquele frio na barriga quando passeiam em uma das minhas montanhas russas.
   Mas eu estava falando da janela do meu quarto, um portal para alguma outra dimensão impregnada pelo cheiro de uma 'dama-da-noite' plantada aqui por perto. A janela do meu quarto, onde meu pensamento vai longe, acelerando e rebobinando esta fita, inúmeras vezes. É um flerte perigoso com o tempo, eu me deixo levar pela dança, pela valsa, pela sinfonia do vento que derruba e arrasta as folhas da 'àrvore-motel'.
   As casas são todas iguais, como embalagens, pintadas com a cor da monotonia. Aqui existe uma tranquilidade assustadora, daquelas que aparecem após uma tempestade ou um naufrágio. A única diferença é que há muito tempo não existem ondas, me jogando de um lado para o outro nesse mar, turbilhões rodopiando tudo como se a sua vida estivesse dentro da lavadora de roupas. Existe apenas uma marola, suave, que traz náuseas.
   Eu disse que meu pensamento vai longe demais. O cigarro está no fim, minhas idéias também. Vou tentar dormir antes que a claridade do dia venha devorando as núvens amarronzadas que cobrem o céu. Desculpe-me, mas preciso fechar a janela.

...meu espetáculo sem tanto glamour.

   Quer saber? Acho que somos tão diferentes, tão distintos, de mundos tão distantes... E é exatamente por isso que quero saber como é participar disso.
   Não faço questão de muita coisa, não cobro tanta atenção, só espero que se lembre, às vezes, das coisas boas que escrevo e esqueça todas as vezes em que eu insisto em estragar tudo. Só quero que saiba que é estranho ficar longe, sem contatos. Até pensei que pensaria menos à seu respeito, mas agora sim, qualquer coisa me lembra você, não importa o que seja.
   Tudo bem, só quero te lembrar que estou por perto. Verdade, tem razão, estou ilhado, sem nenhuma garrafa que possa jogar no mar, sem nenhum sinal de fumaça. Mas estou por perto e você, mais do que ninguém, sabe como me encontrar.
   Olha... Só quero te mostrar um mundo diferente. O universo onde cresci, solto, descalço na rua. Só te ofereço uma participação no meu espetáculo sem tanto glamour, mas repleto de novas experiências. Só quero que veja que eu sou mais que um perfil, mais que acordes e versos, sou mais que essas linhas explicam. Só quero que veja que sou mais que as roupas que uso, das coisas que faço e do pouco dinheiro que tenho. Só quero que veja que eu só vejo você, em várias coisas diferentes. Quero que veja que é tudo muito diferente dessa vez, tão diferente que pode acabar sendo o apropriado.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

   Deve valer a pena! Não pensar tanto nos passos antes de ir atrás do que se quer. Deve valer a pena, tentar de novo, achar em alguém algo parecido com o que você já sentiu um dia. Deve valer a pena tentar ser feliz com outra pessoa, ser feliz por outra pessoa.
   Deve ser estranho, quando as coisas aceleram. Assumem grandes proporções de repente. Mais estranho é quando você acaba se sentindo à vontade com tudo isso. Feliz por isso estar acontecendo, na velocidade que for. É bom quando te mostram que você ainda consegue ser uma pessoa da qual sentia saudade de ser.
   Deve ter algum jeito, igual o que as outras pessoas encontram pra se livrar desses pensamentos. Deve ter algum jeito de se abdicar, de se negar. Deve ter algum jeito de esquecer... Esquecer essa ideia de que as coisas serão iguais. Deve ter algum jeito de voltar a gostar de alguém, de se desmanchar quando ela abre um sorriso. Deve ter algum jeito para não se sentir um adolescente quando vê uma foto ou quando ela não está por perto.
   Deve valer a pena ser estranho e ter algum jeito para não ligar pra mais nada e continuar remando, 'mesmo se esse barco estiver furado'.