"Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia."


Friedrich Nietzsche



domingo, 1 de abril de 2012

"tua boca no canto da minha..."

"E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos..."             
Pablo Neruda

  Mostro-lhe se vieres. Tenho tudo em mãos para lhe dar. Ela chora com medo, seu pavor de ser gentil. Medo de seus dias proibidos, de suas saudades e desejos reprimidos. E pela minhas veias ela corre, descalça, de vestido.  Em mim crava suas raízes, em mim crava seus dentes e suas unhas.  
  Despeja teu riso em mim, me machucando, brincando com meu equilíbrio. Como o impacto de uma onda, me rodando em um redemoinho de espuma e água azul, ela me gira com seus olhos. Mas não imploro para que pare, você sabe que isso não faz parte da minha natureza. Deixo com que brinque. Mesmo que tua boca me trague, mesmo que teus dentes me rasguem, deixo com que brinque. Porque te amo.
  E amo o jeito como vai embora. Deixando suas cicatrizes em mim, cicatrizes de âncoras que se arrastam, de suas correntes arrebentando em meu porto. Amo ver-te indo, sem saber se voltas. Amo-te com o beijo, com o vento, com o sexo. Amo tua boca no canto da minha, sua falta de coragem, sua indecisão. 
  Que seja. Talvez veja meus olhos em ti. Em tua boca vermelha, nos nós de seus dedos, em seus pés, nas voltas dos fios de seus cabelos. É o que somos que importa. É o que somos por trás de nossas tristezas, por trás de nossa solidão. Pode ser que não repare quando reparo em ti. Em sua boca desenhada, as marcas que teu sorriso abre, no charme de teus olhos, no desenho de seu rosto. Pode ser que não repare em mim.

"Depois de tudo te amarei 
como se fosse sempre antes 
como se de tanto esperar 
sem que te visse nem chegasses 
estivesses eternamente 
respirando perto de mim"
Pablo Neruda


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