"Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia."


Friedrich Nietzsche



sábado, 16 de fevereiro de 2013

Tudo aquilo que você queria ser e ainda não é.

   Deixa o tempo passar. Não siga os ponteiros. A vida é o que é.

   Faça o gol. Corra. Marque. Brigue. Entre firme na dividida. Tudo ao redor é muito mais do que "um dia após o outro". Deixe de se acorrentar, deixe de se trancar em seus remorsos, em seus ressentimentos.  Deixe de se esconder por trás de seu reflexo. Esqueça dos espelhos, eles não te mostram o que você é.

   Abra a cortina, deixe a luz entrar. Faça a sua vontade. Pare de dançar reparando no modo em que os outros dançam. Feche os olhos e escute a música. Respeite as sensações. Colecione as experiências. Liberte a pessoa que você sempre quis ser. Seja.

   Deixe que este eu-lúdico acorde amanhã. Mude seus hábitos, suas opiniões, seus caminhos. Tenha a coragem de desistir. Abra mão do que não te pertence. Não tente ser feliz a qualquer custo, lute para ser o que é. De qualquer modo, a qualquer momento. Acabe com o tempo de paz. Comece a guerra dentro do seu corpo. Não tenha vergonha de se corrigir, de se contrariar. Amplie a sua visão e mantenha o foco. 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Plano B: 78º

   Lembra daquela sensação de estar vivendo em um mundo de mentiras e que em um belo dia tudo viria à tona? Apenas ilusões que a qualquer momento alguém poderia esfregar em sua cara. Toda a sujeira que estava bem abaixo de seu nariz e você não viu.

O que aconteceu? Perdemos a coragem? Por quanto tempo vamos continuar negando as rachaduras na parede? Por quantas vezes ainda vamos permitir que nos enganem enquanto apenas assistimos? 
Foda-se. No final não faz tanta diferença assim. Siga o padrão, vai dar tudo certo.
   
   Quero começar engolindo essas meias palavras. Meias verdades. Toda essa inteligência inútil, todo esse excesso de informações sem importância. A vida é uma armadilha, um passeio pelo campo minado, e vocês terão que andar por esse caminho pelo menos uma vez. E os outros... Bem, os outros querem mais é que vocês se fodam. Vestem um sorriso amarelo nos seus rostos e, pronto, está feita a sociedade. Pois que seja, que me olhem dos pés à cabeça e não me reconheçam, perdi a vontade de me assemelhar. Nunca tive a necessidade de me encaixar. Sou engrenagem torta, que faz girar ao contrário.
   
   Inventem uma nova visão política, não vejo a hora de contrariá-la. Me contem das tendências, adoro ver o modo como estragam hoje em dia as coisas boas do passado. Me deem notícias, estou louco pra saber quanto tempo elas vão durar antes de serem esquecidas e arquivadas. Que grande idiotice. Tanta facilidade, tanto avanço, tanta tecnologia nas mãos, apenas pra ter que aguentar a estupidez e as manias das pessoas que eu nunca vi. O mundo para todos. A voz para o povo. Não era bem isso que eu tinha na cabeça.
   
   Eles fizeram de nós um bando de viciados. Gente pobre de espírito, sem reação, estática. Colocaram essa fraqueza dentro de nós. E todos vocês levam seus filhos para a escola, assim como seus pais os levavam, e deixam com que cortem suas asas, que lhe limitem o voo. E vocês fazem de tudo para que não cometam as idiotices que vocês cometeram e no entanto querem que eles andem pelo mesmo caminho por onde vocês vieram. E eles sabem muito mais do que vocês sabiam e os filhos deles vão saber ainda mais. São crianças tão espertas, com olhos abertos para tudo, com filtros ainda tão limpos e mesmo assim você permite que um retângulo de vidro, uma câmara de elétrons, os eduquem e ensinem. Assim como fizeram com vocês.
  
   É óbvio que entendo, sou parte disso. Mais um pedaço defasado, outro parafuso enferrujado pela água suja que jorra das infiltrações do sistema. Apenas mais uma lâmpada acesa na cidade, sobrevivendo enquanto a resistência não torrar. E no âmago da questão, é o que todos vocês também são. Uma fração. Uma sombra. Um acidente. Do acaso. Do tempo. Uma ironia do destino. E todo mundo lá fora sabe disso, mas eles também sabem fingir muito bem, que vocês são interessantes, que são peças singulares. E vocês adoram ter os seus egos massageados, não é? Sentem prazer com isso. O erotismo intelectual inserido nesta ilusão literária que temos. E não importa o que seja ou se realmente é certo, mas vocês sempre vão concordar com o que lhes trouxer mais, mesmo que pegue parte do que não é de vocês. Ninguém aqui mata pra comer. Toda a merda que vocês têm na vida pode ser comprada numa porra de supermercado! 
   
   Por que razão separar o eu de nós? O eles de vocês? Não estamos todos juntos aqui? Tapando os buracos com nossas explicações ridículas para tudo? Sentindo a maré subir enquanto jogamos para fora baldes e baldes de ressentimentos e dissimulações. A quem queremos enganar? Nós sabemos quem somos, por o que passamos, o que fizemos, quantas mentiras contamos e quanto perdemos e ganhamos para chegar até aqui. Aquela vida de mentira parece um pouco mais distante agora, não é mesmo? Vocês não vêem o mundo como ele realmente é, nenhum de nós o vê. Não podemos. Se por acaso víssemos, perderíamos as esperanças. O nosso mundo, este que construímos com pedras e ferro, é frio. E tudo o que nós temos, nem mesmo é nosso. Não foi nem mesmo pensado em nosso conforto. Não foi nem mesmo feito para a nossa paz. Nunca tivemos o que queríamos, temos apenas o que eles querem que queiramos.
   
   E que relevância todas essas palavras haveriam de ter? Amanhã nossos cafés estarão quentes, e nossas canetas tampadas, e nossos papéis arrumados, e nossas roupas passadas, e nossas bocas mastigando, carne ou pão. E tudo vai parecer tão normal e previsível como apenas a vida, em sua rota de colisão, em sua órbita instável, pode ser. E nossos olhos vão arder, vão abrir e fechar, bem diante das coisas que não vemos. E com o tempo, vamos nos cansar. Vamos olhar pra trás e nos culpar pelos desperdícios com que compactuamos, pelos equívocos dos quais fizemos parte. E um dia iremos nos lembrar, de quando achávamos a vida engraçada. Vamos nos lembrar dos rostos novos e felizes, do cheiro que as coisas tinham, do jeito que as garotas riam. Já te passou pela cabeça que este é um mundo de mentiras e que em um belo dia tudo virá à tona?