Elas surgem aos poucos, quando os olhos se acostumam à falta de alguma claridade relevante do lado de fora de casa, enquanto a pele se acostuma ao vento frio que corta após a chuva de um dia cinza por inteiro. De repente somem, por trás da fumaça negra cuspida por toda a cidade ou através de um ponto cego, mas a vista continua garimpando o brilho claro entre a escuridão.
As vezes aparecem como reticências, pontilhando este quadro negro com todos os seus minúsculos riscos de giz, espalhando poeira, raramente riscando e sendo apagado de uma só vez, abençoandos os que mais carecem de sua famosa capacidade de realizar desejos e trazer boa sorte. As vezes giram ao redor desta órbita, como em uma embriaguez de uísque ou gim. Quase sempre ignoradas, pedaços de um infinito, esquecidos entre uma ou outra constelação.
Tão distantes, que mesmo mortas demoram a se apagar, mesmo vivas costumam não aparecer. Talvez por conta dessa cidade maldita, quase sempre tão iluminada, atrasada e ocupada, desapareçam aos olhos de quem não tem mais vontade ou capacidade de se permitir alguns momentos de calma. Momentos para simplesmente ouvir o som que o silêncio faz, para realmente enxergar essa galáxia de míseras estrelas ofuscadas por toda essa luz falsa e mentirosa.