"Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia."


Friedrich Nietzsche



segunda-feira, 14 de novembro de 2011

- I really can't stay...

   - But baby, it's cold outside.

   Ainda me pego pensando em tudo isso, na mentira que tudo parece ser. Em tudo que os olhos insistem em ver. Ainda me afogo em doses intragáveis para amortecer tudo que desaba dentro da minha memória.   Fica mais leve assim, mesmo que me tire do caminho por algum tempo, mesmo que escape alguns segredos de dentro de mim.
   No final, eu sempre estrago tudo, com um toque, como um Midas ao contrário. Mas é de minha natureza. Cada pessoa tem uma qualidade predominante e a minha é acabar com tudo. Alguém precisa fazer isso, assumir o compromisso de transformar o bonito demais em algo normal, que pode ser tocado e quebrado. São só palavras.
   Houve um tempo em que eu escrevia essas maluquices em guardanapos, em mesas de qualquer bar, bebendo cerveja e conhaque, fumando um cigarro atrás do outro e despejando a sujeira das minhas idéias naquele papel engordurado. Para que outro pobre diabo lesse uma história de má sorte que não fosse a sua própria. Às vezes, saber que as outras pessoas têm problemas nos conforta um pouco. Um pouco.
    Esse tempo ficou pra trás. Agora bebo menos, quase não fumo e despejo minha sujeira nessa tela branca e ainda tem gente que gosta... Vai entender. Tanta gente doida nesse mundo, gente diferente, gente igual. Gente que agora se comunica o tempo todo, como se estivessem ligadas por fios, recebendo choques de vários lados. Me preocupo com essa interação. Muita gente, muita comunicação, muitas idéias... Isso não dá certo!
   Sou um pouco egoísta, meio vaidoso, não gosto de muitas opiniões. Gosto de quem não concorda, mas não suporto quem diz que estou errado. Tudo é relativo, tudo tem seu lado. Por mais que muitas vezes me engane, eu fico cansado de tentar fazer dar certo. O fracasso está sempre por perto.
   Ainda me perco, em ruas que não conheço, nessa cidade inesgotável. Ainda me perco nos balcões dos bares, nos banheiros sujos, me perco sentado no meio-fio. Ainda me perco em labirintos, em esquinas, nos cruzamentos sem semáforo, no trânsito. Me perco na lembrança da boca dela, as mãos deslizando nas curvas entre a cintura e o quadril. Mas ela sempre vai, ela sempre sai. Mesmo com o frio que faz, ela não pode ficar. Ela é diferente, acorda cedo, se esforça. Ela encontra tempo para tudo, as coisas que precisa e as coisas que gosta de fazer.
   É engraçado tentar escrever ou pensar em outra coisa. Ela é ciumenta, gosta de atenção, não me deixa pensar em muita coisa por tempo demais. Ela tira as coisas do lugar, vira o mundo de cabeça pra baixo, e de repente é só ela que importa. É como se as leis da gravidade não se aplicassem mais, é tão difícil deixar tudo no ar como ela faz. 
   Ainda me pego pensando em mim, do dinheiro que preciso, da azia que não me larga. Ainda me pego pensando na chuva, nos carros passando, no silêncio do mundo quando acaba a força. Ainda me pego pensando nos vícios, nos desenhos amassados, nas palavras mal escolhidas. Ainda me pego pensando nos amigos que não vejo, nos livros que eu não li, nos dias que não voltam mais. Ainda me pego pensando que tudo isso que penso sempre dá lugar a ela, e que nada faz-me pensar como ela faz.

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