"Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia."


Friedrich Nietzsche



terça-feira, 4 de setembro de 2012

Karma

Tenho pensado bastante e cheguei a uma conclusão: Preciso ler o "On the road" de novo. Passear na montanha-russa de linhas de Kerouac de novo, pra sentir o mesmo frio na barriga. Aquele medo e atração pelo inexplicável, pelo impensável. Então, penso em meus amigos e o rumo que suas vidas estão levando. E fico feliz.

Tenho pensado em uma mudança maior. Em mexer com as coisas, de verdade. Criar sobre mim, as minhas próprias expectativas. Ter a coragem de ir atrás da vida que quero ter, como Sal Paradise. Fico pensando em caronas, que me levem adiante, que me apresentem a generosidade que as pessoas ainda conseguem ter. Eu penso em uma estrada, cortando o país com uma guitarra e os velhos bons amigos. Para onde o mundo está nos levando?

Não sei se foi algum problema no início, ou alguma coisa que perdi no caminho, mas sei que, de uma forma bem estranha de explicar, eu penso muito diferente das pessoas. Talvez tenha nascido tarde demais, ou muito cedo. Não é pra mim fácil seguir os mesmos padrões dos outros. Ser julgado pelos mesmos padrões dos outros. Somos todos de carne, mas não pensamos igual, fazemos coisas diferentes. Por que motivo devo eu ser julgado pelos mesmos parâmetros que os outros são? Quero uma vida diferente!

Quero a sorte de uma vida minha, sem muitas vaidades, mas do jeito que eu acho que deve ser. Quero agora ter do que me lembrar quando estiver mais velho. Ficar onde eu acho que devo ficar, onde eu nasci para ficar. Não importa quanto dinheiro eu vou ter para mostrar aos outros quando eu chegar lá. Quero a vida simples e feliz de quem faz o que gosta, e que fazendo o que gosta transforma o acumulo exagerado de dinheiro em uma coisa boba. É a paz que os ricos não conseguem ter.


Engraçado aquela sensação de saudade do que nunca tive. É como se sua vida falasse para você: "Tem alguma coisa errada! Onde você se perdeu, marinheiro?". Sua vida, enjoada de tanto balançar no vai e vem de ondas baixas do mar que é a sua rotina, decide romper o silêncio e quase implora. "Me leve para onde eu devo ir!".
Mas você está ocupando demais, regrando e programando seu futuro, às vezes não dá pra ver. E realmente, muita gente consegue ser feliz planejando suas vidas, colocando o futuro no papel o tempo todo. Bem como disse, p
or que motivo devo eu ser julgado pelos mesmos parâmetros que os outros são?

Eu sonhei que estava andando. Por horas, andei pelo acostamento da estrada, como se voltasse pra casa. O sol esquentava rápido o asfalto e segurava a fumaça dos carros no chão, acinzentando o horizonte que parecia nunca chegar, como uma miragem no deserto. Os carros e caminhões passavam em alta velocidade, dentro de suas certezas e destinos. E eu andava, mesmo quando meus pés cansavam, eu andava. Até chegar em casa. "Eu não preciso fazer as coisas do mesmo jeito que vocês fazem e mesmo assim eu chego onde vocês chegam." Esse é o karma de quem não se dá bem com números, é difícil contar os dias, as notas, as pessoas.
Eu gosto é de perder a conta. Gosto daquilo que ainda não vi, mas sei que existe por ai. E mesmo que o horizonte pareça não chegar, eu vou continuar andando, para saber o que existe além disso aqui.

Eu quero minha vida de volta. Obrigado por cuidarem de tudo por tanto tempo. Mas agora eu vou atrás de dar conta dela, ou vou acabar tendo que vivê-la dependendo de outros, mal acostumado, fraco. Tenho um encontro marcado com a selva que a vida lá fora é. Preciso entender os seus perigos, suas emoções, suas liberdades. Quero apenas a oportunidade de ver o mundo com os meus olhos, respeitando o modo como os outros o vêem. Quero dar a minha opinião. Quero não ser tratado como mais um maluco idealista. Só vou atrás das coisas que quero mas não consigo, por ser pesado demais o peso das expectativas. Ainda mais das expectativas que não são minhas. Eu quero tentar. Andar sozinho. E quero voltar feliz e com saudades e um sorriso no rosto, porque consegui fazer as coisas que eu queria.

Um comentário:

Juliana disse...

Já fui assim, jovem, idealista, puna. Já pensei em transformar o mundo, a minha vida e a dos outros. Normal? Padrão? Normal pra quem? Padrão de quê? Sim, cada pessoa é uma e vive de jeito. Aprendi a respeitar a sabedoria que as pessoas adquirem com a vida, mas nunca deixei de tentar do meu jeito; aprendi que tudo que temos que aprender na vida está nas derrotas, não nós momentos de alegria (nestes nós só aproveitamos aquilo que conseguimos nas vitórias e tentativas). Não se vive a vida pensando em "como devemos viver a vida". A vida só se aprende a viver VIVENDO.