"Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia."


Friedrich Nietzsche



segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Talvez isso seja sua culpa!

-Acho que me saí bem - respondendo a si mesmo - Definitivamente, me saí bem!

Algo havia mudado, sem muitas razões ou causas aparentes, mas definitivamente o curso deste rio havia se desviado. Perdera alguns de seus afluentes que acabaram secando, mas tornou-se mais largo, mais fundo e, não mais, tão sinuoso.

-Acho que sim. - ela disse-lhe - Pode ser que você tenha razão, mas o que tudo isso quer dizer?
Ele tenta absorver a pergunta e formular uma resposta que não pareça estúpida ou pequena demais para encarar a questão. No fundo, sabia que ela era parte fundamental daquela mudança, mesmo chegando depois de muita água ter passado por baixo da ponte.

-E então? - ela insiste.
-Não sei, doce. Talvez seja algo natural, uma necessidade repentina por equilíbrio... Não sei!

Talvez não fizesse tanta diferença, o futuro continuava sendo uma incógnita, mas agora ele tinha ela por perto, por mais que as vezes fingisse que não a tinha e até chegou a pensar que não a teria. Mas agora ele sabia.

Seria uma chance de tentar fazer algo direito, que realmente desse certo, que representasse algo?

- Não te entendo, sabia?
É claro que ela não entenderia, aliás, como poderia?
- O que eu posso dizer? - ele responde, ou tenta - Talvez seja felicidade, talvez seja a nova rotina, talvez seja você... Talvez isso seja sua culpa!

Ela enrubesce, talvez não acreditasse ou não esperasse fazer parte disso mas no fundo, ao menos, desejava ouvir isso. Ela parece feliz também, sempre o encarou nos olhos com um jeito encantador, um certo brilho entre o infantil e o diabólico. Sempre o beijou com um jeito de menina e de mulher. Hoje ela seria anjo ou demônio?

- Porque eu? - questiona com um sorriso bobo e retruca com uma provocação esperta - A gente mal se conhece, quer dizer, a gente se conhece há pouco tempo.
- Desde quando isso faz diferença? Não devíamos mensurar isso pela intensidade e não pela duração? - Ele pergunta respondendo.

Ela não precisa responder. Os dois percebem quanta verdade havia ali e ambos consentem. Então, de repente, um breve momento quase constrangedor de silêncio, ela dá um passo à frente, beija-lhe na boca e lhe abraça, encostando sua cabeça no peito dele.

Um comentário:

Juliana disse...

Que seria do mundo se as pessoas não causassem mudanças, umas às outras? Que seria da vida se tudo fosse feito da mesma água vinda do mesmo rio, que corre sempre do mesmo jeito?
Mudanças são surpreendentes e necessárias. Diria que são "surpreendentemente necessárias"...
O fato é que a vida muda e não avisa, assim como nós, que mudamos e não avisamos.