"Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia."


Friedrich Nietzsche



segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Stardust

   Elas surgem aos poucos, quando os olhos se acostumam à falta de alguma claridade relevante do lado de fora de casa, enquanto a pele se acostuma ao vento frio que corta após a chuva de um dia cinza por inteiro. De repente somem, por trás da fumaça negra cuspida por toda a cidade ou através de um ponto cego, mas a vista continua garimpando o brilho claro entre a escuridão.

   As vezes aparecem como reticências, pontilhando este  quadro negro com todos os seus minúsculos riscos de giz, espalhando poeira, raramente riscando e sendo apagado de uma só vez, abençoandos os que mais carecem de sua famosa capacidade de realizar desejos e trazer boa sorte. As vezes giram ao redor desta órbita, como em uma embriaguez de uísque ou gim. Quase sempre ignoradas, pedaços de um infinito, esquecidos entre uma ou outra constelação.

   Tão distantes, que mesmo mortas demoram a se apagar, mesmo vivas costumam não aparecer. Talvez por conta dessa cidade maldita, quase sempre tão iluminada, atrasada e ocupada, desapareçam aos olhos de quem não tem mais vontade ou capacidade de se permitir alguns momentos de calma. Momentos para simplesmente ouvir o som que o silêncio faz, para realmente enxergar essa galáxia de míseras estrelas ofuscadas por toda essa luz falsa e mentirosa.

Um comentário:

Juliana disse...

As luzes permanecem sempre aos olhos de quem as busca, meu caro... a vida é cheia dessas luzes que se acendem e apagam. E elas são tão rápidas que olhos menos atentos deixam escapar a beleza do momento, a grandeza da luz, a oportunidade de admirar.
Quando olhamos estrelas, nos sentimos tão pequenos que achamos que não podemos seguir para lugar algum, achamos que tudo o que fizermos nesta vida (e nas outras), não fará diferença perante tamanho universo; quando olhamos pessoas, algumas pessoas, nos sentimos tão grandes e completos que de vez em quando, e só de vez em quando, parecemos brilhar. E o mundo parece menor pertante nós.