"Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia."


Friedrich Nietzsche



sábado, 5 de março de 2011

Amigos, amigos...

...Discussões à parte!

   É realmente encantadora toda essa arrogância que temos ao falar sobre o que sabemos ou, ao menos, acreditamos saber. Vocifera-se argumentos disparados como tiros de metralhadora em todas as direções. No entanto, quem está com a razão no final das contas?
   Cresci ouvindo o velho cliché: "Religião, política e futebol não se discute!". Apesar de serem os assuntos mais comentados, (com a exceção de conversas sobre o clima, relacionamentos, trabalho ou sua ausência, etc...) continua em cada esquina, boteco, salas de jantar e estar, o velho desacordo de opiniões. Algumas vezes levando à um ponto de ebulição crítico, fora de controle e/ou insensato.
   Começando pela religião. Nunca me fascinou tal ofício, tampouco dogmas e diretrizes. Abstenho-me desta vocação e isso não significa que eu seja um exímio pecador ou descrente. Acredito na livre interpretação e também em minha fé interna, sem intermédios, sem representantes. Se me perguntassem eu diria que meu Deus não possui religião, não mora em nenhum templo e não fala pelas mãos de homem algum que há milénios escreveu o que dizem ser a 'palavra de Deus'.
   Não volto-me contra os adeptos da religião, respeito o direito de exercê-la, contanto que respeitem o meu de abdicá-la. É óbvio que as relações entre fiéis de diferentes vertentes eram, são e, provavelmente, sempre serão estremecidas. Também é evidente que a coexistência é um sonho bem distante entre cristãos, judeus, budistas, mulçumanos, entre outros.
Outra observação cómica é a visão dos fiéis para com os ditos 'heréges', sendo que a palavra 'infiél' soa pejorativa demais. Os mais liberais te vêem como alguém perdido que precisa ser resgatado e ensinado a seguir o caminho certo, por outro lado, os mais radicais, como bem diz o nome, não toleram os não religiosos, julgando-lhes como condenados, por não partilhar da crença que os demais confiam como único caminho... Tudo bem...

   Adiante com a política. Sei o quanto é monótono os discursos dos partidários e políticos, também nesse caso me abstenho. Não sou da esquerda, da direita, tampouco fico ao centro. Novamente, não acredito que estou sendo representado por alguém ou algo. Deixando de fora disso tudo os frequentes escândalos, coloco o dedo sujo na ferida aberta dos que pouco sabem sobre os estandartes que levantam ao brado heróico. Servindo de panfleto de uma causa que não é própria, não é nova e que muitas vezes 'não compra o que vende'.
   Exausto de toda essa troca de acusações e provocações acabo por ver tudo como o mesmo 'filme azul' que apenas troca atores e diretores para uma 'versão vermelha'. E como sempre, na história dessa raça, os oprimidos acabam virando opressores. Mas a verdade é que sempre haverá uma juventude disposta a se agarrar nas ideologias criadas por tiranos, de ambos os lados, que escreveram, discursaram e ostentaram a 'liberdade' aos quatro ventos, como heróis, mas passando por cima de qualquer resquício de liberdade com a justificativa de que "o ideal é para todos, não de um só. Portanto o que tiver que ser feito pra que tenha liberdade, será feito!". Muito bonito de se ouvir, exceto quando quem houve são os que ficaram a baixo da sola desse sonho de liberdade, quem foi saqueado pelo direito de ser livre, que foi torturado pelos libertadores, quando quem houve são as mulheres estupradas por heróis de tantos lados políticos diferentes. Será mesmo que 'os fins justificam os meios'?
   Termino com a política usando das palavras de um dos últimos grandes pensadores: "Heroísmo no comando, violência sem sentido e toda a detestável idiotice que é chamada de patriotismo - eu odeio tudo isso de coração;" Albert Einstein

   E como falar do futebol? Ah, o futebol... Este sim, não falta ao debate jamais. Resultando em grandes desavenças, rivalidades e em casos mais extremos brigas. Desde o seu início europeu, até então um esporte bretão de nobres, aos jogos nas várzeas brasileiras quando imigrantes importaram o esporte, até os dias de hoje como grande espetáculo que movimenta cifras exorbitantes, é sem dúvida um dos esportes mais emocionantes e o mais dinâmico.
   Algumas vezes, a discussão torna-se mais relevante do que a religião ou política, afinal é muito melhor preocupar-se com seu time do que com a missa ou a economia, digo sem ironia alguma. Responda-me se puder: O que seria deste país se não fosse o futebol? Difícil saber ou argumentar. Paixão nacional, ópio do povo, delírio das multidões de torcedores.
   A maioria de toda e qualquer estupidez esconde um lado sensato e admissível. Por exemplo: Há milhares de anos pessoas se matam por praticarem religiões e rituais diferentes; Não é incomum assistir à políticos se esbofeteando, líderes invadindo países, ditadores tiranos dando um 'jeitinho' de se livrar dos indesejados, apenas por divergências políticas. Seria tão absurda assim a rivalidade e violência por parte dos torcedores?
   Alguns dizem que o futebol anestesia o povo, pra que mantenham-se entretidos e felizes, e eu devo concordar. Concordo com o direito de se anestesiar contra a crueldade, despotismo e opressão imposta à um povo cansado de viver como manda o figurino, de seguir as regras ultrapassadas de barbudos velhos, de sempre abaixar as calças para políticos deliciarem-se com suas boas vidas de representantes populares. Se Deus existe e se a regra é clara, termino com apenas um pedido: Negue-me o pão e o circo, mas não me negue o futebol.

2 comentários:

Karenn_Paris disse...

O futebol, sendo ópio ou não, alivia qualquer pessoa. Mas sou suspeita pra falar, por que eu simplesmente amo futebol.Quanto a religião e a política, deixemos isso pras salas de aula, igrejas e afins, por que bom mesmo na mesa do bar é beber.

Juliana disse...

Creio que o importante, em todas as questões, seja mesmo o debate. Ouvir, pensar no que ouviu e rebater com perguntas que o outro não sabe a resposta é uma das minhas diversões prediletas. Pode até parecer cruel de quando em vez, pode parecer agressivo, mas é minha maneira de aprender. E de ensinar aos que acham que sabem que na verdade não sabem nada.
Ouvir as pessoas falarem de suas paixões é uma das melhores coisas da vida: aprende-se a amar o que o outro ama, quando amamos quem fala, assim como aprendemos a detestar o que o outro ama, quando detestamos quem fala.
Um brinde às discussões baseadas em argumentos bem colocados!