"Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia."


Friedrich Nietzsche



segunda-feira, 13 de junho de 2011

...Uma indiferença quase anestésica.

   "Tire seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor."
  
   Resolvi sair. Sair de dentro destas paredes, sair de dentro deste molde. Escapando por um fresta da minha cerca de arame farpado, por cima dos meus muros repletos de cacos de vidro, escapando dos meus próprios cães de guarda. Tudo o que criei para impedir que qualquer um entrasse sem permissão, mas que consequentemente me aprisionava dentro das minhas celas feitas de desconfiança e amargura.
   É uma estupidez tentar se defender de tudo, se guardar por baixo de um escudo, privar-se das possibilidades casuais. Deixo então, a partir deste momento, que as coisas tomem suas direções, aceitar o que foi, receber o que volta, dispensar o que não me convém. Como tentar negar o que fui e o que me tornei? Como disfarçar os erros que por ventura cometi e os crimes dos quais sou acusado?
   Esqueça... Na verdade, não sei o que lhe dizer. Só espero que me ignore, mesmo que não queira. Desse modo, continuo vendo-te na minha estrada, mas me esqueço um pouco mais enquanto ando e se olho pra trás  vejo-te distante, tua silhueta esmaecendo, sendo apagada. Assim sendo, ficam as cicatrizes mas as dores dão espaço à uma indiferença quase anestésica.
   E isso é tudo. Lembre-se apenas de me devolver as chaves, de tirar teu perfume de mim, de levar tudo que é teu. Tira este teu gosto doce do meu sorriso amargo. Aqui não há mais espaço e o meu tempo já é escasso para discutir sobre o meu fracasso. Cansei de cair no teu laço. Deixe tudo isso ir pois se não nos pertence não voltará e o que for nosso volta atrás de nosso abraço.

"Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?"

 Fernando Pessoa