"Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia."


Friedrich Nietzsche



segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A eterna busca de felicidade no meio da lama desta infeliz cidade.

   O que te mantém no chão, às vezes, é uma outra perspectiva sobre a gravidade. O que te mantém no chão é o peso do ar que entra em seus pulmões. O ar lotado de fuligem, poeira e doenças alheias dessa cidade. Este ar re-respirado, compartilhado, quase morno.
   O que te mantém em movimento são essas caldeiras, colecionando remorsos em forma de carvão em brasa. É o que move suas engrenagens, o que te bota nos trilhos. Cuspindo pra cima toda a fumaça que resulta da combustão de seus ressentimentos.
   Talvez o que te mantenha vivo seja o fato de você sempre precisar de algo novo e/ou melhor para ser feliz. Talvez já deveríamos ter acordado e esquecido desse sonho de felicidade completa. A eterna busca de felicidade no meio da lama desta infeliz cidade. Talvez o que te mantenha vivo seja o fato de você ainda encher o bolso de outras pessoas, tentando encher o seu próprio, para em algum momento mostrar para outras pessoas as coisas que você agora tem.
   Mas é claro, às vezes o que você possui acaba te possuindo. Tudo isso acaba sendo complicado, quase sempre indecifrável, mas não se você tem Vodka. Tudo depende do fato de você ter ou não uma garrafa de vodka para diluir toda essa sujeira que vem e vai. Você sabe, vodka é legal para levantar a auto-estima.
   Caralho, essa porra de loteria podia cair um dia na minha mão. Aí nunca me faltaria vodka para esterilizar essa imundície. Compraria uma grande casa no campo para minha mãe, com as coisas de que ela precisaria. Botava a vida da minha família pra frente e sumia. Fugiria desse lugar chato, teria uma parede cheia de guitarras e poderia ficar até o resto da minha vida, se assim desejasse, bebendo com os amigos e ouvindo jazz.
   Mas como eu disse, o ar daqui é pesado demais e não permite que nossos pés se afastem demais do chão. Vivemos sonhando que seremos, alguns até acreditam que já são, pessoas que realmente importam, homens e mulheres que usam roupas realmente boas e frequentam restaurantes requintados. Mas não basta só isso, o que define é o status, a altura da patente. Vivemos sonhando com a porra da vida de romance, à hollywoodiana, e todas as coisas que não teremos.
   Quer saber? Releve tudo isso. Não faz muito sentido, talvez porque me falte vodka, talvez porque esse vinho branco parece derreter minha vontade de permanecer acordado, assistindo o domingo acabar. Esse tipo de coisa não me aconteceria se eu fosse russo ou não fosse um maldito bêbado. Foda-se! É como um grande amigo meu costuma dizer: "prefiro ser um bêbado conhecido do que um alcoólatra anônimo". Tem toda a razão, caro amigo.
  

Nenhum comentário: