"Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia."


Friedrich Nietzsche



quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Às vezes.

   É engraçado. Vai me dizer que continua sendo aquela mesma pessoa, que poucas coisas mudaram, que ainda bebe aquele conhaque com licor de cacau. Puxe uma cadeira e peça algo pra beber, faz muito tempo que não nos falamos, conte-me boas notícias. Hoje não quero falar de mim pois você sabe o que fiz.
    Você sabe que andei fugindo, não como um foragido mas como alguém cansado demais pra permanecer parado aqui. Não fui tão longe, permaneci na cidade. Só dei um jeito de esquecer o celular, dei um jeito de esquecer os meus e-mails e recados. Fugi pra dentro de mim, pra fora de ti. Tentei fugir dessa liberdade, da livre escolha.
    Acha que eu engordei? Que milagre, não? Devo ter ganhado alguns quilos, afinal estou fumando menos, comendo mais. A ansiedade me faz abrir a geladeira de 15 em 15 minutos, na esperança de algo delicioso se materializar lá dentro como em um toque de mágica.
     Você ri.  Ri porque não é contigo, conheço teu drama sobre quilos a mais.  Deixe isso pra lá, aliás, você está ótima. Achei que você não ficaria mais bonita do que já era quando te vi na escada. Eu estava enganado, olhe só pra ti. Está linda, mas acho que já disse o suficiente. Não quero que pareça que estou dando em cima de você, sei do seu compromisso.
     Falando nisso, como vai seu namorado? Como é o nome dele mesmo? Parece ser um bom rapaz. Tudo bem, sempre vou achar estranho você com outro cara que não seja eu, mas ele parece ao menos te fazer feliz. Não sei se já te perguntei, mas eu te fiz feliz? Por muito ou pouco tempo, mas te fiz? Eu sei que te fiz sofrer, isso você deixou bem claro, mas já ficou bem feliz comigo?
     Às vezes tenho saudades de ser bem feliz. Não faça essa cara, você sabe do que estou falando. Não, eu não virei romântico, nem saudosista e é claro que sou feliz. É que hoje as coisas parecem mais nubladas, nem muito sol, nem muita chuva. Você viu? Não sou mais tão grosseiro como eu era, ou como eu pensava ou fingia que era. Dê um tempo, eu era um garoto, tinha uma fama e uma cara de mau para manter.
    Vamos mudar de assunto. Não quero ficar aqui falando sobre nós. Se a cerveja não demorasse tanto pra chegar nem teria tocado nesse assunto, acho que vou ter que gritar com algum garçom. Antes de perder a chance eu queria te perguntar se um algum dia poderíamos fazer isso de novo. Sentar, beber, conversar. Sei que ele tem ciúme de mim, tem toda razão. Vou entender se não achar uma boa ideia. É que às vezes tenho saudade de ser bem feliz. Às vezes tenho saudade de ti.

2 comentários:

Carol disse...

forte, simples e profundo. como um bom conhaque, puro. =D

Juliana disse...

A saudade e a fuga devem ser nossas maiores companheiras nos dias atuais. Porque até com saudades, a gente foge. Foge do que ama, foge do que sente, foge da esperança de não precisar mais fugir... e o que é a saudade, afinal? Uma fuga para uma realidade que vivemos, mas que sabemos que não mais existirá. Sonhamos com coisas que não vamos mais viver, como uma foto tirada em um momento único da vida que não mais voltará.
Continuemos então fugindo, para que nossa consciência tenha alguma paz, e para que a vida possa nos mostrar que nada foi em vão.